domingo, 8 de dezembro de 2013
"O importante não é vencer, mas competir"
É triste ver seres humanos perdendo a humanidade numa partida de futebol, justamente quando o mundo perde Nelson Mandela, o Homem que fez a impossível reconciliação entre homens na África do Sul, usando o diálogo para acabar com o Apartheid.E aí refletirmos de onde vem tanta violência? Por que ainda há violência no mundo? E ainda por que falta segurança nos estádios (públicos ou privados)? Por que os homens agridem homens? Por que competimos nos esportes? É para gerar violência? Certamente que não. Vamos a um estádio de futebol não para ver violência ou sofrer atos de violência. Muitos menos para testemunhar a desumanidade de homens em desrazão. Vamos para ver os espetáculos dos atletas.
As cenas de hoje mostraram que precisamos lembrar de que ano que vem, vamos ser sede do mundial da FIFA, e nenhum brasileiro quer assistir, na TV, às cenas de violência, de covardia e de negligência das autoridades de segurança e do judiciário. Certamente que não queremos que a Copa no Brasil seja lembrada por episódios como este do jogo entre Vasco e Atlético (PR) em Joinville (SC)(8 de dezembro).
O público no privado e a questão da segurança em eventos abertos
Pergunto-me até que ponto uma partida de futebol, num estádio cheio de cidadãos, seja considerada um evento particular. Também me pergunto o que seja público e o que seja privado, já que a polícia alega que estava fora do estádio porque o evento não era público, mas privado, e que só estava seguindo uma orientação do MP. Aqui estamos diante de outro jogo: o da verdade que se impõe nas formas jurídicas, ou seja, daquilo que algumas autoridades entendem por segurança nos estádios (privados)de jogo de futebol.
Uma partida decisiva para dois times nacionais, pessoas nas arquibancadas, inclusive crianças, emoção, tensão e uma constatação: a ausência da polícia dentro do estádio por causa de um argumento que nos leva a trazer à tona estas questões e outas. O que leva o ministério público a recomendar que a polícia ficasse de fora do estádio onde jogavam Vasco (rebaixado) e Atlético Paranaense em Joinville (SC). Este episódio de violência nos estádios evidencia o que já sabemos: falta de efetivo policial, falta de planejamento e muito dinheiro envolvido. A torcida do Vasco, novamente, é agredida e, (agride ou se defende?). Primeiro, em Brasília. Agora, em Joinville.
O esporte não é lugar para violência. Pelo menos nas partidas de futebol, não se aceita nenhum tipo de violência, seja por parte dos jogadores, seja por parte dos torcedores. Mas a questão evidencia que não se poder fazer copas sem garantir a segurança de todos.
Violência e esporte: uma relação a ser combatida
Em pleno século XXI, continuamos assistindo cenas de guerra nos esportes, ou seja, estádios virando campo de batalha. Homens continuam matando por causa de partidas de futebol...até quando vamos nos perguntar "até quando?".
A violência nos estádios não ocorrem apenas no Brasil, isto é fato. Logo, a FIFA precisar pressionar as autoridades para garantir a segurança dos estádios de futebol em todo o mundo. É preciso fazer alguma coisa mais concreta, como fez Mandela na África do Sul. É preciso investir mais em ações sociais com o dinheiro do futebol.
Já sociedade brasileira precisa lutar não apenas pelo passe-livre, como vimos em julho deste ano, mas contra a violência que nos entristece e nos faz perder a dignidade de ser humano quando somos surpreendidos em uma esquina ou via pública de nossas cidades com a enunciação da frase: "perdeu!" da boca de um assaltante. Havemos de pressionar as autoridades contra a indiferença que violenta os milhares de brasileiros nas periferias das grandes cidades, contra a falta de atendimento médico-hospitalar...
Somos penta?
Somos! De fato, somos. Mas cada título foi conquistado com outro tipo de luta. Não nos orgulhamos da violência nos estádios de futebol, muito menos, fora dele. Mas a coisa é certa: a maioria dos brasileiros se orgulha dos cinco campeonatos conquistados pela seleção brasileira de futebol. Todo mundo se orgulha de Pelé... de como o futebol tem mudado a vida de muitas famílias que viviam precariamente. Mas havemos de lembrar que as mães, desses nos heróis da bola, lutaram para criá-los em meio à violência, à miséria e à dificuldade. Se eles venceram a pobreza e trouxeram essas vitórias, foi graças às lutas e os sacrifícios que tiveram. As vitórias de cada jogador representa transformação social e esperança por mérito de suas famílias e da força de vontade de cada um. Somos pentacampeões graças a eles e não ao governo.Se somos hoje a Pátria de chuteiras, é por causa desses nossos heróis de chuteiras.Mas não podemos mais aceitar que os lugares onde as chuteiras brilham se transforme em campo de guerra. Os estádios não podem reproduzir cenas de violência como aquelas do Coliseu quando os cristãos eram devorados pelos leões. Não podemos aceitas mais tanta violência. As conquistas do passado são méritos de nossos jogadores. As do futuro, somos nós que devemos refletir se queremos que fiquem a cargo da luta dos nossos jovens e de suas famílias. Será que nossos atletas têm que passar por isso para chegar o chegou Pelé, Neymar ou Zico?
Havemos de pensar que ainda convivemos com a violência, com os "perdeu" nosso de cada dia, da vida de muitos jovens que ainda vivem em situação de risco por causa da falta de escolas,de alimentação, de moradia,de saúde...Mas sonham com a fama de ser jogador de futebol e chegar a seleção. Cada jogador da seleção sabe o que passou para conquista um dos títulos que nos orgulha. Cada um conseguiu vencer estas adversidades que ainda persistem em nosso país.É emocionante ouvir nosso hino numa partida de futebol porque lembramos das lutas dos jogadores e das nossas lutas de cada dia. É de arrepiar, muitos até esquecem a letra do hino e de que quando não é cantado, apenas tocada, não precisa cantá-lo, mas cantamos. Deixamos a voz sair para esconder as lágrimas. Cada jogador da seleção brasileira é um vencedor.Cada jogador do Vasco com a sua derrota é já um vencedor por tudo que passaram na vida, assim como os Fluminense, e dos outros dois rebaixados para a segundona.
Vitórias e derrotas fazem parte do mundo dos esportes. As vitórias dos nossos times do coração nos alegram. Suas derrotas nos entristecem, mas a violência nos estádios e fora deles além de nos envergonhar, evidenciam que não podemos deixar ao acaso o planejamento da segurança. É preciso garantir a segurança das pessoas: atletas, árbitros, torcedores...
O Mundial de Futebol e as Olimpíadas trarão melhorias para o país, mas a violência e a falta de segurança ameaçam ainda os espetáculos. Ameaçam as conquistas esportivas. Ameaçam as vidas que vão aos estádios e que sofrem atos de violência tanto dentro quanto fora.
As imagens do jogo Vasco e Atlético (PR) não mostram apenas torcedores enlouquecidos; mas, a falta de segurança, o despreparo, e a negligência das autoridades. Deste lamentável episódio que se soma a outros vêm uma nova questão jurídica e linguística: o que é público e o que é privado no Brasil?
A ausência de efetivo policial dentro do estádio em Joinville (SC) parece ter sido justificada por uma orientação meio equivocada, para não dizer, demasiadamente equivocada, de um membro do MP, que considera as partidas em eventos particulares aberto ao público: seja privado! Daí vem a questão: qual o sentido de privado e qual o sentido de público?
Até que ponto um espaço aberto ao público em geral é privado? Será que é privado da segurança pública? Seria este entendimento? Talvez devesse convocar um linguista ou um lexicólogo da língua Portuguesa ou até um imortal da Acadêmia Brasileira de Letras para explicar o que significa público e o que seja privado na nossa língua. Será que as palavras da língua não cabem na constituição? Na linguagem do judiciário?
Os eventos esportivos não devem ser encarados como privados, uma vez que milhares de cidadão estão num espaço que está aberto ao público em geral. A noção de privado não cabe quando o evento é público,ou seja, aberto ao publico. Este episódio também demonstra o risco que corremos em eventos considerados privados e, ao mesmo tempo, os equívocos cometidos pelas autoridade que estão a cargo da fiscalização e manutenção das leis.
Estas imagens mostram mais do que a desrazão de torcedores fanáticos que cometem atos de violência
Estamos vendo violência? Sim, mas uma série de violência: a da insegurança, a da negligência e, sobretudo, a da impotência. Quando assistimos pela TV, ficamos a pensar: o que podemos fazer? Quando isso vai acabar? Será que basta apenas prender os culpados? O que vão fazer de agora em diante os organizadores da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016? Não sabemos. Tudo fica ao acaso. E o despreparo mostra que a nossa sociedade cada vez mais se torna violenta, porque a se banalizou a violência. Ela, cada vez mais, substitui o espetáculo do esporte pelo espetáculo da selvageria, da desumanidade...Parece que ainda não aprendemos a lição. A violência continua nos estádios e fora dos estádios. E as autoridades assistem como espectadores àquilo que poderia ser evitado. Até quando vamos assistir à cenas de violência como estas? Continuamos nos perguntando e esperando uma resposta das autoridades. Resta nos valer das imagens de verdadeiros homens para trazer à nossa memória para que serve os esportes, os estádios de futebol e o que é ser homem.
Assim, evocamos as imagens de Pierre de Coubertin, de Mandela, de Pelé para trazer a nossa memória o que o homem pode fazer para ser mais do que um animal homem, ou seja, pensa no bem estar dos outros homens e lutar contra a desumanidade que promove a violência e a intolerância:
Pierre de Coubertin
Pelé
Nelson Mandela
Essa discussão sobre as cenas de violência dentro e fora dos estádios é mais que um desabafo de um brasileiro que espera das autoridades. É uma confissão de fé de quem acredita no poder dos esportes, do amor das mães e das famílias de nossos jogares de futebol que vivem do esporte, e que venceram a pobreza pelo esporte. De quem crê no poder da palavra, do diálogo e na educação pelo esporte como acreditou Pierre de Coubertin.
Não podemos permitir que o esporte seja motivo para se praticar a violência, nem tão pouca deixa que autoridades coloquem a vida das pessoas em risco. O esporte é para celebrar o milagre da vida, a conquista de quem consegue vencer a violência irracional de cada dia, a violência da fome, da falta de escola, hospitais, da falta de segurança, da falta de felicidade. O esporte é para apresentar espetáculos, em que os homens superem seus limites.
Somos penta sim, mas não queremos continuar com os espetáculos de corpos humanos em estado de selvageria, de desumanidade, praticando cenas de horror em pleno. Aqui fica a moral da história: precisamos investir na segurança publica, na educação para evitar que cenas como estas continuem a serem exibidas na TV e nos estádios de futebol.O que diria o barão Pierre de Coubertin, idealizador dos Jogos Olímpicos, se visse estas cenas que testemunharam os meios de comunicação. Sua célebre frase de "O importante não é vencer, mas competir" deve ser traduzida por outra, ou seja,"Violência não é um sinal de força, a violência é um sinal de desespero e fraqueza", lembra-nos o Dalai Lama.
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